10/15/2006

Verdes Anos

Acho que já começo a sentir a pressão Natalícia.
Pois, se calhar não é bem isso… tenho a sensação que me andam a pressionar. Eu sou um bocadinho paranóico, durmo com os olhos abertos. Mas parece que cada vez que acordo vou ver tipos a pendurarem as luzes de Natal em pleno Outubro, e isso… isso é que não, porque deixo de dormir, aquelas luzes de presença vermelhas, verdes e amarelas afligem-me a visão.
Mas sim, andam a pressionar-me. Chamo-me Gavião, tenho 21 anos, e uma família que me quer ver casado, não é preciso casado… basta uma moçoila jeitosa e simpática para desfilar nas festas da família. Portanto, a próxima festa é, pois claro, O NATAL. Eu não posso ir a esse evento sem uma pessoa a mais para comprar um presente, de preferência um perfume de mulher, este ano tem de existir mais um… senão, senão estou completamente lixado. “Pois, não tens namorada… porquê? Não queres? Tens um espírito empreendedor? Queres viajar não é? E o trabalho é tanto que uma pessoa nem se consegue dedicar a mais nada!" Vertente numero dois: "Pois, eu sei bem o que tu queres, não queres uma queres muitas meu sacana, eu quando era novo também era assim, não me escapava nada”. É pá, que grande frete são os eventos sociais, em que tens todos a desculparem a tua suposta vida infeliz. Pois, eu até gosto da minha, ouço os “Verdes Anos” do Paredes, fumo SG Ventil, bebo Brandy e leio. E não, não quero namorada, chatice. Odeio o Natal, vou dedicar o Outubro, o Novembro e o Dezembro, a sabotar luzinhas de Natal das ruas do Porto.

10/12/2006

"A jangada de Medusa" - Hipólita (7)



No mundo de Hipólita, o livro tornou-se uma companhia. No mundo de Hipólita, um quadro assume uma dimensão real. Então... vendo um livreco de Arte, repara na “Jangada de Medusa” de Gericault, um dos quadros Românticos de todo o sempre. O sofrimento humano por excelência.
Corpos quase nus, conturcidos, angustiados, num misto de esperança e de derrota.
- “Que coisa medonha? Aquilo é ridículo. Se fosse taxista diria, morra meu filho...assim não paga imposto...não paga não.”
Mas a coisa não funciona assim, aquilo é sofrimento à séria, sofrimento geométrico de composição do quadro, cada elemento sugere uma evolução de desespero, começa nos catetos e acaba na hipotenusa (mentira para quem conheçe o teorema de Pitágoras).
Mesmo assim, era começar numa ponta e acabar na outra, que vergonha era baixar a cabeça naquela situação... afinal, foi só um naufrago, que acabou com dez pessoas numa jangada a implorar por um salvamento... mas isto, é o pão nosso de cada dia, de todos nós...”Alguém nos acuda!!!”
Assim Hipólita, imaginou... -”Que poderia fazer eu, para auxiliar os meus semelhantes?” – No máximo, levar um café e umas sandes de queijo da serra, e talvez uma almofadinha, uma mantinha para a espera ser mais confortável.”
- “Mas alguém desliga aquela luzinha para onde eles olham com esperança? Aquilo é um foco, meus nabos...” - Pois esperança é só para os crentes, e estes se fossem crentes não imploravam...porque à partida já estavam salvos pela bóia de Deus!”
Hipólita, nem pensou mais no assunto, era óbvio que aqueles senhores já estavam perdidos, não acreditavam em nada, só na luz, e a luz não é Deus de certeza.” Desistiu de chamar o S.O.S, era óbvio que eles íam morrer na jangada. Sem café, sem mantas e almofadas. Mas é claro que Géricault não pintou isso (para grande indignação de Hipólita).

De noite

Há noites, e noites, e como há noites...Há dias e dias!
Isto é verdade. Todas as pessoas o sabem.
Tarados, tarados, bêbados, maluquinhos, e claro mais tarados.
É impressionante. E o que descrevo é um resumo de meros encontros numa noite de:
Tarados, bêbados, maluquinhos, e claro...mais tarados.
Relatos não são precisos, mas frases:
- “Ai e tal, porque eu gosto é de ir ao cú ( salvo seja) ao gato.”
- “O gato, coitado, qualquer dia está com as malas à porta. E com andar novo.”
- “Menina, é claro que o seu namorado a engana.Ponha os olhos em mim.”
- “Paga mais um copo ás meninas! Taz a bêre.”
-“Esse piercing, esconde-lhe a beleza natural. (comentário porco com segundas intenções.)”
- “Tenho aquí a t-shirt da Mega-sex. (sem palavras).”
- “Ai e tal, queriamos fazer um inquérito. Se responderem fazemos qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, que vos agrade.”
- “Pois, eu sou lésbica, e faço reportagens.”
- “Casa comigo? Eu sou de Angola! Sou o Félix.”
De dia:
- “Já te lambia qualquer coisa!!!”
- “Olá! Bom dia!”
Ou seja, mesmo sendo eu uma tristeza, não há paciência para isto. Tenho medo de saír de casa, tenho mesmo medo de saír de casa, seja de dia, seja de noite, acho que começo a odiar gente, metem-me nojo. É certinho e direitinho.

10/06/2006

Hipólita (6)

A vizinha de Hipólita, a Alfreda,vive no terceiro andar. Tem as manias da limpeza, viúva de profissão, tramar os outros é o passatempo favorito, irritar meio mundo era um dever. Assim como é óbvio, Hipólita não perdia pela demora, estava com os dias contados, porque Alfreda, ao olhar para a queimadura, e pior, ao olhar para os seus maravilhosos lençoís brancos (agora manchados), estava decidida a vingar-se:

-“Ah! Aquela criatura, aquele estafermo, aquela parasita, pindérica...está bem arranjada! Não fora eu uma idosa, ía-lhe à cara, ía pois. Muito já aturei eu daquela peste! Não se vai ficar a rir. Ai não, não. Aquela grande besta!”

Morava na já podre e pobre alma de Alfreda, um ódio muito grande. Nunca foi boa peça, mas desde a morte do marido, a coisa piorava de dia para dia. Enquanto Alfreda resmungava, Hipólita (coitada, na sua inocência), ria, ria, ria, não tinha noção nenhuma da gravidade da situação. Então, como se não bastasse tudo o que já tinha acontecido, decide ir provocar um bocado mais Alfreda. Assim, resolveu ir pendurar toda a roupinha branca no estendal, que fica exactamente por cima do de Alfreda (atitute suicida). Alfreda quando volta à janela, repara no sorriso parvalhão da vizinha e na roupa branca, e lá estava, perdeu as estribeiras outra vez, e o pouco da pose que tinha:

-“Sua grande porca, porca de uma figa! Traste! Tá feita comigo! Tá, tá. Vai sentir a ira de Hipólita! Até choras! Sua besta...(Já se babava de tanta raiva).”

Assim, estava declarada guerra. Pena Hipólita não ter levado a coisa a sério.

Memória

A memória, ora,
A memória, função geral de conservação de experiência anterior, que se manifesta por hábitos ou por lembranças; tomada de consciência do passado como tal...
Lembrar, trazer à memória, recordar...
Pois...uma pessoa até pode ignorar lembranças, danificar a memória, para se esqueçer de certos factos, e até consegue.
Arranquem os narizes.

10/01/2006

Hipólita (5)

Ahh!!! Que belo dia! - murmurava Hipólita logo pela manhã.

"Belo dia" - para Hipólita "BELO DIA" é o mesmo que: Ora está um sol que não se pode, agora da esquerda surgem umas nuvens intensas bastante cinzentas, seguidas de aguaceiros maçadores, que não param nem por nada. Obviamente não há trovoada, porque ela adora luz dos raios. O mundo gira à volta do humor dela.

Portanto, corrigindo, "AH! Porque é que acordei Hoje?".

Acordada estava a menina Hipólita, assim, levanta-se, calça os chinelinhos, dirige-se para a cozinha, e lá estava, Café. O ritual de sempre, aquece a água, prepara o café, e procura o açúcar numa das 10 caixas (nunca se sabe quando aparecem formigas para destruir o lar e a paciência de uma alminha).
Até este ponto, tudo bem. Não fosse hipólita morar num quarto andar. Mas continuando, Abre a janela, respira fundo, vê as pessoas a correrem para o trabalho, e entre piu-pius e sirenes a tocar, ela bebe seu Café (um balde de Café aliás).
Entretanto, não sabe ela como, nem porquê... mas assustou-se com um barulho qualquer! Pois, e com o barulho, entornou o Café a ferver, mesmo em cima da vizinha do terceiro andar. Que rebaldaria para ali foi, desde insultos a ai-ai-ais.
- "Neste prédio é só gente maluca, pederastas, criancinhas, anormais e gatos, é um cheiro neste prédio que não se pode, cambada de porcalhões..." - e nisto, a vizinha foi tratar da queimadura. Mas voltou...
- "E você (dedo indicador bem levantado, na direcção de hipólita), sim você meu estafermo, você não perde por esperar, ISTO NÃO FICA ASSIM!! Não fica não. Maluca, tarada, só bebe café...parasita..."
E nisto Hipólita de sorriso rasgado atira o resto do Café para cima do estendal da vizinha, onde secava roupinha branca, acabadinha de esticar...