8/30/2006

Hipólita (1)

Certo dia Hipólita leu o jornal, ela não faz disso um hábito mas volta e meia dá-lhe o bicho da leitura. Hipólita é um pouco solitária, podia não o ser, mas preferiu assim. Gosta muito do seu quarto sem luz natural, e é lá que desfruta dos seus grandes prazeres, beber cafés, ler e fumar. Mas voltando ao assunto, Hipólita nesse certo dia ouve as sua vizinhas desocupadas a comentar um caso estúpido qualquer na mongólia, algo como "Cão ao volante, perigo constante". A curiosidade levou-a a ler tal artigo. "Mulher bateu com carro enquanto ensinava o cão a conduzir. O cão estava farto de observar a dona a guiar e ela pensou que era chegada a hora de dar uma oportunidade ao animal. Durante a aula de condução, Li assegurava o controlo do travão e do acelerador; o cão encarregava-se do volante" (trabalho de equipa). "Chocaram com um automóvel pouco depois de terem arrancado. Ninguém ficou ferido." Assim Hipólita saiu do seu quarto sem luz natural, pegou no seu sucatas e foi ao canil. Comprou um canito e ensinou-o a conduzir, ela ficou com o volante e o cão encarregue do acelerador. Hipólita e o cão continuam felizes no seu quarto, mas desistiram das maluqueiras da condução, agora só bicicleta e com cestinho.

8/29/2006

As Mousses de Chocolate

Sempre tive uma vida calma, pacata, sem grandes emoções. Acho que me afastei da vida, limitei-me a cumprir aquilo que a vida me exigia, estudei, ajudei os meus pais, agora tenho um emprego e pago as minhas contas. Não tenho família, nem animais domésticos, adoro que a vida me passe por mim, não me envolvo com ela. Mas existe uma coisa que eu nunca ultrapassei... a que é que sabe a mousse de chocolate?
Caí um dia em tentação, achava que o facto de ter uma experiência nova não ía afectar em nada a minha vida estável, perfeita. Entrei na loja, comprei ovos e chocolate de cozinha. Quando ía a pagar, olhei pela primeira vez para uma mulher, com aqueles olhos...bem... ela parecia, uma maravilhosa lontra. Senti arrepios, batimentos cardíacos instáveis (ora vai devagar, ora 150 num minuto), a cara a ferver, só disse disparates, enganei-me no pagamento, e claro tropeçei na porra do degrau que dividia o estabelecimento da rua, ou seja fiz a figura do verdadeiro trapalhão. Fiquei preocupado, fui ao médico, estava com medo de ter um problema sério no coração, e não podia estar mais certo, pois o médico disse:
-OH amigo, não se preocupe, você só está apaixonado, isso um dia passa-lhe.
Fui despedido, perdi a casa, não tenho dinheiro, não tenho familia, não tenho vícios...nada mudou muito. Antes tinha tudo, agora não tenho nada, fiquei só com a lembrança do sabor daquela mousse de chocolate.

8/28/2006

Os Bancos Verdes

Já reservei o meu lugar naquele banco, exactamente para as 9.00 da manhã. Todos os dias acordo ás 8.30. Levanto-me, tomo banho, aperalto-me toda e lá vou eu. 8.50 saio de casa, bato a porta e subo aquela rua onde o sol bate forte logo pela manhã. Nunca me esqueço dos óculos de sol (objecto essencial para aguentar a vida), entro no "Frescos" para comprar o meu café duplo e o jornal.
E chegando ao fim da rua, vejo o jardim, e lá está... lá está o meu lugar cativo, aquele banco verde ferrugento. E com isto 9.00, e eu sentada esperando por ele. E lá vem... barba por fazer, cara por lavar, dedos cheios de tinta, umas olheiras gigantes, casaco a tresandar a mofo e jornaleco a roçar o sovaco.
Um... dois...três... quatro...cinco...estes são os segundos que o desconheçido demora a passar por mim. Já tentei imaginar como seria se eventualmente lhe falasse... mas nada me pareçe melhor, que me sentar naquele banco ás 9.00 da manhã...sozinha.

8/25/2006

Bacalhau (teatro) Sá da Bandeira

Certa noite, num pequeno café, encontravam-se vários jovens, uns encontravam-se sóbrios e os restantes estavam imersos nas delicias do alcool...
De repente o tédio invadiu quatro jovens que se encontravam numa mesa,e assim lembraram-se de jogar uma coisa qualquer tipo Pictonary. Juntaram-se dois a dois, e toca a jogar. É evidente que nestes grupos de final de noite, há sempre o grupo sério (Grupo 1), que ganha discos e queijinhos sem parar (não foi bem o caso, porque o jogo durou muito pouco), e o outro que tem a proeza de juntar o cómico com o bebado(a)(Grupo 4), é óbvio que a coisa não ía correr muito bem!
Deste modo era a vez do Grupo 4 jogar, tinha saído desenho, e então sai a palavra BACALHAU, fácil,fácil, muito fácil, era até ridiculo de tão fácil que era. Mas pronto, o bêbado(a) lá desenhou o bacalhau (obra digna do museu do café), e o cómico em 4 segundos adivinhou.
Problemas vieram logo a seguir...sai desenho outra vez. O cómico não é muito artista do desenho, mas de raciocinio acreditem, É GENIAL.
PALAVRA - BACALHAU Á GOMES-DE-SÁ.
RACIOCINIO - Ora, primeiro desenha o belo do bacalhau, é certo, o bebado(a) até aí aguentou-se com dignidade.
Agora e como se chega ao Gomes-de-sá? Pois, o colega desata a desenhar um teatro (cadeirinhas, a ribalta, a plateia, o palco,um desenho impressionante) ...UM TEATRO.. tipo TeCa, TNSJ, TNDM II, ó meu Deus, o bêbado só identificava o Bacalhau Ribalta ou o Pascoal.
ACABOU O TEMPO...lá diz a equipa da concorrência...
-"Então deixa lá ver essa palavra.."
Bacalhau á Gomes-de-Sá, então primeiro desenho o bacalhau e depois este é o teatro Sá da Bandeira...Sá da Bandeira - Gomes-de-Sá,não é óbvio..."
Agora ajudem..em mimica como dizer "ARMAR A BARRACA".

8/23/2006

Embudo

Tenho algumas dificuldades em ser sóbrio,
em ter temperança no beber;
pior ainda, acho que não quero ser sóbrio.
Eu quero é luxo e confusão.

Não me apetece ser lúcido,
Não quero clareza de pensamento.
Não quero sequer ter raciocínios…
Quero trapalhadas, imbróglios…
Assim terei sempre motivo para beber,
e isso assim não é dependência!

Não tenho dependências, tenho vontades,
Vontades estas, que serão sempre, sempre mesmo, concretizadas,
Senão, começo a irritar-me e a ter calafrios, ainda espeto uns murros na parede, e já agora uns berros a quem me aparecer primeiro à frente!
Nada de mal…suponho…
mas nada que um copito não resolva,
fico logo quietinho.

Se calhar estou ébrio,
tenho o cérebro perturbado por vapores alcoólicos….

8/21/2006

Não tenho pena nenhuma tua

Vou deixar de tomar banho, vou deixar de me pentear, lavar os dentes, cortar as unhas, estou farta de higiene. Quero encher-me de porcarias, quero sujar-me até não aguentar mais com a nojeira. Quero beber sem parar até não poder mais, quero fumar sem parar, quero nicotina, quero absinto, quero andar sempre inconsciente. Quero finalmente insultar todas as pessoas do mundo. Quero invadir a casa das pessoas, abrir-lhes o frigorifico e esvazia-lo, quero rir-me delas. Quero esvaziar a minha conta, quero pegar fogo a todos os boletins que me obrigam a preencher. quero estourar com os supermercados. quero partir electrodomésticos, quero ir á missa pregar aos fieis. quero acabar com as filas de espera. quero que me deixem em paz. parem de falar comigo, porque eu tenho facas, armas de fogo e melhor, tenho mãos.
No teu lugar desconfiaria de mim, porque eu vou torturar-te, vou-te estragar, vou acabar contigo...e vou adorar.

Bom dia

Hoje apetece-me mesmo enfardar umas trutas, uns carapaus, um peixaroco qualquer.
Mas se calhar fico-me por um prato tradicional qualquer.
Ou que tal, uma saladinha, uma coisa saudável, porque hoje em dia ser saudável é tudo, ter saúde para dar e vender.
Depois comer uma frutinha e saír de casa de consciência leve, como o estomâgo.

Mas não, Hoje acordei de manhã e só me apeteçeu fumar e beber dois cafés.

Bom dia!

8/20/2006

Não há nada que tu faças

Canção

Não há nada que tu faças
Que te não faça imenso mal,
Desde o uso das estrelas
Ao abuso corporal.
Em volta a ti morre a morte
Mas tu próprio não ficas inteiro
Sorris de manhã à noite
Como a um espelho fatal.
Cortas a vida aos pedaços
Para ver se fica igual.
Não há nada que tu faças
Que te não faça imenso mal.

Mário Cesariny, "Burlescas, Teóricas e sentimentais"

8/19/2006

O meu tio afastado António (1)

Tenho um tio que adora requeijões, adora lacticinios, é o meu tio António (mais conhecido pelo Toninho Requeija). É um senhor muito sério, pessoa de bem, pessoa que não bebe, não fuma, segue os dez mandamentos, reza á noite, reza antes da refeição, e antes de dormir.
Passa a vida a rezar e a perdoar. É uma pessoa de nervos sensiveis, mas que graças ao Senhor, diz ele, se aguenta muito bem, nunca deu um único berro e estalo em toda a sua vida (Idade - 79).
Mas ele sabe que isto um dia vai mudar...isto de ser o paspalhão da aldeia tem de acabar, servirem sopa com moscas e cabelos ( e não reclama), receber as fatias de queijo mais pequeno (não reclama), os bifes sola de sapato (não reclama), ser o último a receber o jornal, receber sempre a meia de leite gelada (não barafusta), ter de ficar sempre de pé no café...ummm

A coisa não vai dar certo...

8/18/2006

Um plano insuficiente

Hoje, ou seja naquele dia, naquela tendinha cheia de água, acordei e pensei para mim...

Simplesmente...

Apetece-me cuspir-te para a cara.
aliás

Apetece-me espetar-te agulhas nos olhos, partir-te os dedinhos um por um, agrafar-te a boca lentamente, e partir-te o nariz à martelada.
aliás

Apetece-me esborrachar a tua cara na lama, meter-te num saco do lixo e atirar-te do nono andar.
aliás

Apetecia-me afogar-te numa banheira de água ardente, vinho tinto, ou absinto.

Mas nada disto era suficiente para ti. Daqui a uns tempos penso num plano melhor.

Convenção Mundial de Gabardinas

Em pleno Festival Paredes de Coura, um jovem inglês tem a sua primeira experiência com o caldo verde. Foi como é óbvio uma desilusão, o caldo verde era uma batatada...cara. Mas, nem tudo é mau, porque um grupinho de jovens portugueses (uma raridade naquele festival) orientou aquele esfomeado.
Inglês feliz com ar de espanto - "this is Caldo Verde!!!!", "Very nice, very nice".
Portugueses horrorisados com ar de gozo - "Aquela porcaria é só batata..." "That is only potato"
Inglês baralhado a sentir-se enganado - "Caldo verde of potato??"
Portugueses cada vez mais gozões quando se apercebem da ausência de chouriço - "Where is the chouriço?"
Inglês já conformado - "What is CHOURIÇO?"
Portugueses mortos de riso - "Little pieces of meat".
Coitado do Inglês...paga..e come batatas e ervas...nem chouriçinho deram ao pobre...CAMBADA DE GATUNOS.
nem gabardinas deram á gente. saudações aos meus courences que se portaram como valentes.

8/13/2006

Que não vos falte nada!!










fazei...como fiz..

Origem da Mulher

"Dizem letrados e sábios
Que Deus criou a mulher
De um osso do pai Adão.
Creia a peta quem quiser;
A melhor opinião
É ter sido fabricada
De uma roda de limão."

Ferreira de Mesquita - 1948

Recreativo - Anedótico - Charadístico

























Almanaque do Porto 1948

8/08/2006

Bazófia, Fanfarrão

Bazófia - s. f. guisado feito de restos de comida; (fig.) prosápia; jactância; s. m. indivíduo fanfarrão

Fanfarrão - adj. e s. m. que ou aquele que alardeia de valente sem o ser; gabarola; bazofiador

Desempavesar

Desempavesar - v. tr. tirar os paveses a; v. refl. (fig.) deixar-se de prosápias, de bazófias

8/06/2006

Azucar blanquilla Amagoldi

"Si tiene remedio,
por qué te quejas?
Si no tiene remedio
por qué te quejas?"

(Proverbio oriental)

"No pongas la falta, pon el remedio".

8/04/2006

Azucar de Café Tirma

6ª Série, nº12, nº25, nº27

- Todo lo que una persona puede imaginar, otras podrán hacerlo realidad. (julio verne), nº12

- Los hombres casados son horriblemente aburridos cuando son buenos maridos, y abobinablemente presumidos cuando no lo son. (oscar wilde), nº25

- La persona que no comete nunca una tonteria nunca hará nada interessante. (Proverbio Inglês), nº27

"Tia Dalila"

Natércia berra no avião:
- Ó Fernando tens aqui um lugar vago. Tens mais espaço para os pés. Anda lá é muito melhor aqui.

Fernando gozando:
- Já pareçes a Tia Dalila, que dispunha dos outros. Ela fazia as promessas e os sobrinhos é que iam a pé para Fátima, naquelas procissões!

Joaquim:
-Isso sim é uma boa tia!

Fernando rindo desalmadamente:
- Todos os anos lá iamos na romaria.