2/15/2007

Eugénias

Eugénias sofre de falta de coordenação. Ora coordenação, afirma, é coisa que ela não tem, mas por vezes gostava muito de ter, agora um exemplo, tipo às 9.00 no café, quando lhe perguntam, “menina, o que deseja?”.
Mas no fundo, quer dizer... nem é preciso ser no fundo, esta história da falta de coordenação...até lhe faz bem.
Mas afinal o que é isso da coordenação, ora, chamam de “Coordenação motora a capacidade de coordenação de movimentos decorrente da integração entre comando central –cérebro
- e unidades motoras dos músculos e articulações
”.
Já começa, ao ler uma coisa destas, Eugénias fica confusa, demora quase 3 minutos a tentar articular isto tudo. Mas voltando à falta de coordenação, ela sofre muito com isso, sofre mesmo muito porque faz figura de parva durante o dia quase todo. Vejamos, ela começa logo de manhã (agora três exemplos de enfiada).

Um caso constante: ela tem fome, ela sabe onde tem de se deslocar para se alimentar, sabe mais ou menos o que quer, e quando está a segundos de se alimentar...baralha-se. Já não sabe o que comer, nem o que quer, nem o que está a fazer, onde está; acaba por pedir o de sempre, a sorte é que ela é forreta e pede sempre das coisinhas mais baratas, senão era um prejuízo.

Mais situações, Eugénias tem de ir a retrosarias várias vezes por semana, é muito trabalhadora. Estas idas à retrosaria “Adriano” são logo pela manhã. A loja abre, mas ela já lá está especada 10 minutos antes de a loja abrir, a olhar para a montra Ela tem muito mau acordar, acorda com aquele ar de ressaca ou de gripes (acorda sempre muito doente), e tem de se deslocar nesta figura (com amostras de tecido) a uma lojinha, onde todos os empregados são uns senhores “velhinhos”. Entra muito feliz na loja e concentradíssima no que vai fazer ("fitinhas de veludo, fitinhas de veludo, metros delas, metros..."), e diz, “Olá! Bom dia! Olhe, eu quero... ora, eu quero, o que eu quero mesmo, sabe… não sabe, claro eu ainda não disse… mas afinal… afinal o que é que eu quero?”. E é nestes modos que Eugénias se dirige a um senhor com idade para ser seu avô, que delicadamente lhe pergunta o que è que ela quer, mas lá dentro (lá dentro, ou seja, na tola do senhor) pensa, “esta criatura não regula de certeza, drogada”. Assim ela pede ao "Senhor" um minuto, para se lembrar do que queria, e lembrou-se, e pediu, e comprou. Saiu muito envergonhada da loja. E é quase sempre isto nas retrosarias.

Mas isto não acontece só de manhã (desculpa do sono e das gripes), aqui vai um caso nocturno (a desculpa será o cansaço)de Eugénias. Certa noite estava num café com um amigo, e resolve sacar de um cigarro e pumbas, lume no cigarro.
Nisto, cai a sua mala de pano cru e ela nem repara, e o seu amigo avisa: “ caiu-te a mala”, e assim feita animal, lança-se direitinha para a mala e apanha tudo. Quando se volta a sentar decentemente, o seu amigo olhava-a com um cigarro na mão. Ora ela jurava que não percebia nada. “Mas eu acendi um cigarro? Quando? Não, esse cigarro não é meu?” Em negação constante estava ela. Mas era verdade ela largou o cigarro na mesa, em cima de toalha de papel, já com as marcas das bases dos copos de cerveja. “Mas que bonito”, pensava Eugénias. Mas ela realmente não se lembrava de nada, e o pior, é que entre o cigarro e a mala, surgiu uma bifana (nojenta, com pão de 2 dias) pela ala direita do tasco, e ela também não se lembra (foi um sinal).

Mas se calhar isto da Eugénias, não é uma questão de coordenação, é uma questão de prioridades.