12/21/2006

As dores de cabeça


“Haja dias como este... haja mesmo...” – pensava Cristovão.
Cristovão, estudante deslocado, corre todos os fins-de-semana norte e sul do país, só para visitar sua estimada família. Família esta acolhedora, quando se diz acolhedora, é porque é mesmo. Todos os fins-de-semana o episódio de sempre:
- um indivíduo de 47 kg, duas pernas, uns ombros fraquinhos e uma “mochilona” (três bolsas, um saco principal, saco este que transporta a roupinha lavadinha, e um compartimento secreto para o dinheiro e B.I), e o problema...onde se enfia a comida para a semana...
Ou seja...
Domingo, comboio exactamente às 19.20, são 18.20, é preciso sair de casa está tudo a postos para enfrentar o trânsito, beijo á mãe, festas ao cão, mochila às costas, quando...
- “OH FILHO, E O POLVO!” – berra a mãe desgovernada.
Que se lixe o Polvo pensou Cristovão, mas que se lixe... o tanas pensou a mãe já de embalagem na mão. Ora...dilema, onde se mete o Polvinho agora... a mochila já estava cheia. Só ao chuto e à lambada se metia tal coisa na mochila. Mas a coisa lá se sucedeu. Cristovão corre desalmadamente em direcção ao carro e passado minutos chega à maldita estação de todas as sextas e domingos. Chega e parte, chega e parte, sempre assim... que fazer, ele odeia a família adora!!
Chega à estação, sai do carro rapidamente, pede 5 euros ao pai, um “até sexta, eu ligo quando chegar a casa”, e pronto começa a correria. Linha nove, “ai não... estou atrasado”.
Corre, corre, corre... quando ouve um estrondo no chão, nem quer acreditar que foi da mochila dele que caiu qualquer coisa, mas é óbvio, cai o Polvo. O Polvinho, que não sabia estar quietinho, rebolou estação fora, enquanto Cristovão desengonçadamente o perseguia com toda a convicção do mundo. Atirou-se a ele (ao POLVINHO) mesmo de cabeça, agarrou-o com os dois bracinhos e rezou uma oração qualquer para não perder o transporte.
Já á última da hora entrou no dito cujo, e enfiou o primeiro dito cujo na mochila.
A viagem... a viagem foi um martírio, pois Cristovão estava sempre a ver, quando a embalagem se abria e começava a pingar na cabeça ou no portátil do morcão que ia sentado mesmo por baixo do bicho.
Alivio, dos alívios...chega a casa, congelador, tacho e jantar. Soube-lhe bem como tudo.