10/06/2006

Hipólita (6)

A vizinha de Hipólita, a Alfreda,vive no terceiro andar. Tem as manias da limpeza, viúva de profissão, tramar os outros é o passatempo favorito, irritar meio mundo era um dever. Assim como é óbvio, Hipólita não perdia pela demora, estava com os dias contados, porque Alfreda, ao olhar para a queimadura, e pior, ao olhar para os seus maravilhosos lençoís brancos (agora manchados), estava decidida a vingar-se:

-“Ah! Aquela criatura, aquele estafermo, aquela parasita, pindérica...está bem arranjada! Não fora eu uma idosa, ía-lhe à cara, ía pois. Muito já aturei eu daquela peste! Não se vai ficar a rir. Ai não, não. Aquela grande besta!”

Morava na já podre e pobre alma de Alfreda, um ódio muito grande. Nunca foi boa peça, mas desde a morte do marido, a coisa piorava de dia para dia. Enquanto Alfreda resmungava, Hipólita (coitada, na sua inocência), ria, ria, ria, não tinha noção nenhuma da gravidade da situação. Então, como se não bastasse tudo o que já tinha acontecido, decide ir provocar um bocado mais Alfreda. Assim, resolveu ir pendurar toda a roupinha branca no estendal, que fica exactamente por cima do de Alfreda (atitute suicida). Alfreda quando volta à janela, repara no sorriso parvalhão da vizinha e na roupa branca, e lá estava, perdeu as estribeiras outra vez, e o pouco da pose que tinha:

-“Sua grande porca, porca de uma figa! Traste! Tá feita comigo! Tá, tá. Vai sentir a ira de Hipólita! Até choras! Sua besta...(Já se babava de tanta raiva).”

Assim, estava declarada guerra. Pena Hipólita não ter levado a coisa a sério.