11/10/2006

Hipólita (8)


O final

Afinal...Será que Alfreda tem alguma coisa a haver com isto do café? Que grande tarada. Como é possivel? Que tipa doente. Quer dizer...doente estou eu.” E nisto, desata aos berros, esperniando e gesticulando feito louca, agarrada a uma garrafa de bagaço.

“-TARADA DE UMA FIGA. SUA TARADA... quando a apanhar, torço-lhe o pescoço, sua GALINHA, está feita comigo, DEMÓNIO, Se a apanho está morta, eu mato-a...”

90 % da população que se encontrava na rua, deixou de ver Hipólita como uma pessoa e começou a ver um bicho, um verdadeiro animal possuido. Este animal de duas patas desata a correr atrás da velha Alfreda, que gritava:

-“Não me faça mal... PELO AMOR DE DEUS...não me faça mal...”

“Pelo amor de Deus? Amor de Deus o tanas...tivesse pensado no amorzinho de Deus antes” – pensava Hipólita.

E nisto, com tantos nervos, o coração de Alfreda recusou-se a trabalhar (bater) mais, foi bater para outra freguesia. E pumbas, Alfreda cai redonda no chão. Hipólita ficou sem estática, “Que Diabo era aquilo?”. E assim surge um ligeiro sorriso, porque a tipa estava morta. Agora era preciso resgatar o café. E assim, corre até ao corpo de Alfreda. Quando chegou ainda mandou uns chutos na senhora, só para confirmar se ela estava mesmo morta ou não, chamou-lhe tarada, tirou-lhe as chaves do bolso do casaco, e voltou a dar-lhe mais chutos, e foi-se embora.

Hipólita tendo em sua posse a chave de casa de Alfreda, lá entrou no terceiro andar...e claro quilos e quilos de café. Era um cheiro que só ela conseguia perceber, várias lembranças surgiram, e entre uma enorme tristeza e uma gigante euforia, Hipólita decide encher a banheira de Alfreda com café, e na banheira entrou, e nela ficou a beber litros e litros de café com uma palhinha e óculos de mergulho. Como é óbvio, lá aconteceu, Hipólita acabou por ter um enfarte, ou dois, ou mais, lá foi mais outro coração bater para outra freguesia. Sua sorte foi que os vizinhos chamaram a polícia, e esta invadiu a casa de Alfreda e encontraram Hipólita naquela triste figura, chamaram o S.O.S, e lá foi ela para o hospital.

Tanto Alfreda como Hipólita acordaram no hospital, uma ao lado da outra. E não, não falaram, não pediram desculpa, não foram amigas para sempre... uma continua a morar no terceiro andar e a outra no quarto.